sábado, 26 de fevereiro de 2011

Amolando a mente

Por Manoel Soares
Publicado no Diário Gaúcho

Estes dias, um menino veio me perguntar por que precisava estudar se muita gente sem estudo também vive bem. Fora aqueles papos óbvios sobre educação, me liguei que precisava entrar na mente do moleque. Talvez, como milhares de jovens, ele estivesse pensando em abandonar a escola.

Lembrei de uma história que recebi por e-mail: um velho lenhador, conhecido por sempre vencer os torneios dos quais participava, foi desafiado por um outro lenhador jovem e forte. Muitos acreditavam que o velho perderia a condição de campeão dos lenhadores, em função da grande vantagem física do jovem desafiante.

No dia marcado, os dois começaram a disputa. O jovem se entregou com grande energia, convicto de que seria o novo campeão. De tempos em tempos, olhava para o velho e, às vezes, percebia que ele estava sentado. Pensou que ele estava velho demais para a disputa, e continuou cortando lenha.

Ao final, foram medir a produtividade dos dois lenhadores. O velho vencera novamente, por larga margem, aquele jovem e forte lenhador. Intrigado, o moço questionou:

– Não entendo. Olhei para o senhor durante a competição e notei que estava sentando, descansando. No entanto, conseguiu cortar muito mais lenha do que eu!
– Engano seu – disse o velho. Quando você me via sentado, na verdade, eu estava amolando meu machado. Percebi que você usava muita força e obtinha pouco resultado.

Essa é a real da nossa vida, galera. Tentar vencer sem estudo é cortar lenha com machado cego. Vai ser mais desgastante e menos proveitoso. Não é somente o que se estuda, mas a disciplina de estudar que faz a diferença. Não adianta somente obrigar o menino a estudar. Como pais e amigos, precisamos convencê-los que estudar é amolar a mente para cortar as dificuldades que a vida trará. Se não, sempre seremos vencidos sem entender o motivo.

Por isso, recomendo aos que vão iniciar seu ano letivo: sentem para amolar seus machados.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Viagem de macaco velho

Por Manoel Soares
Artigo publicado no Diário Gaúcho

Depois de viver por mais de três anos a campanha Crack, Nem Pensar, me assustei com a aproximação natural de milhares de jovens com as drogas. Muitos nem sequer sabem que estão
enfiados num mar de horrores. Outros, encontram a solução para a dor no falso prazer oferecido pelas drogas.

Nestes rolês pelo Litoral me dei conta de algo que passou a me preocupar mais ainda: a drogadição dos adultos. Fiquei abismado com a quantidade de homens e mulheres pais de família que usam droga, como cocaína e crack. Conversando com um desses casos, ele me afirmou que dava uns
“tecos” só nos fins de semana, mas que tinha controle, pois há mais de 12 anos estava nessa. Caramba, se ele tem controle, por que não conseguiu parar em todos esses anos? Ele ficou sem resposta.

Uma outra mulher não deixa a filha usar sequer saia curta, mas ela, depois que todos dormem, vai andar no calçadão para fumar um “baseado”. Essa incoerência não funciona, pois os filhos aprendem mais com as ações do que com as palavras.

Realmente, não sei como entrar na mente desses “macacos velhos” para fazê-los entender que precisam de ajuda especializada. Quem acredita que vive bem, mesmo usando droga, não sabe o que é viver bem. Os mais jovens são controlados pelos seus pais. E os pais, quem controla? A coisa é tão absurda que alguns colocam o dinheiro do pó nas contas do mês. É como se a droga comesse na mesa junto com a família.

Não vivemos em uma sociedade capaz de discutir discriminalização ou legalização do comércio e uso de drogas. Fica essa hipocrisia que uns fingem não usar e outros fingem acreditar no que é dito. Pais viciados são fruto da incapacidade das gerações passadas em lidar com o problema. Nunca acreditei que os governantes e as leis são os responsáveis, pois a justiça só precisa bater martelo quando a consciência falha.

Cada um sabe o que faz da sua vida e deve estar ciente dos riscos. Mas acredito que, quando os atos de um pai colocamm em risco a vida do filho é hora de cair em si e pensar se essa viagem vale tanto assim.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre o mercado de trabalho

Por Rodrigo Ramos
Colaborador

Recentemente me formei Bacharel em Direito, antigamente isso seria orgulho de qualquer família externado com a clássica frase: “meu filho é Doutor!” Hoje a realidade é bem diferente, você termina seus estudos e diferentemente dos outros cursos, não sai habilitado para exercer a profissão. Existe o temido Exame da Ordem dos Advogados do Brasil, o qual tem índice de reprovação altíssimo. Mesmo passando na prova, o então novo advogado será apenas mais um dos mais de 80 mil aqui no Rio Grande do Sul. Por ironias do destino tenho o chamado registro precário de Jornalista, mesmo que tenha passado apenas um semestre na Faculdade de Comunicação Social, essa possibilidade surgiu para mim graças a uma liminar na justiça aliado aos meus anos de exercício da profissão como repórter de uma rádio. Aumentando a ironia, foram os doutos Ministros do STF que poucos anos atrás terminaram com a exigência do diploma de Jornalista.

Saindo do pessoal e entrando no social, tenho visto muitas matérias que propagam um grande número de empregos ditos atrativos que não são preenchidos pela falta de profissionais qualificados. A proximidade da Copa do Mundo e das Olimpíadas que, irão ser realizadas em nosso país, só aumentam os predicados que deve ter um trabalhador. Ouço falar que um garçom deve ter além de conhecimentos em inglês e espanhol, noções de italiano ou alemão. Acho difícil que esse profissional receba o suficiente para pagar cursos para todos esses idiomas. Algumas das vagas citadas nas matérias como boas são para operador de telemarketing e para conduzir maquinário industrial, arrisco dizer que essas carreiras não são as mais cobiçadas na atual sociedade.

Medidas tomadas durante o período de comando do Presidente Lula inegavelmente aumentaram o acesso de pessoas com menor poder aquisitivo em faculdades e, por conseguinte, também fizeram crescer a vontade das pessoas em cursar o ensino superior. As ideias expostas pelo candidato José Serra, o qual queria fazer o “PROUNI do ensino técnico” davam mostras de que a política do PSDB visava diminuir o alcance aos cursos de graduação. Uma coisa é inerente a quem conclui o ensino superior, querer atuar em sua área de formação e aí voltamos ao início da conversa que dá um exemplo sobre o mercado para os estudantes de Direito. Não há espaço na maioria dos setores para absorver todos que saem das instituições de ensino superior, o que acaba por gerar uma frustração. Alguns tentam montar seus próprios negócios e outros depois de certo tempo de prostração, começam a procurar por qualquer tipo de ocupação.

Em linhas gerais, a ambição criada com o maior acesso ao ensino superior não é suprida pelo mercado de trabalho e as pessoas penam para aceitar isso e se resignar em tentar sucesso em um emprego menos atraente ou com um status, em tese, inferior. Por vezes, parece que temos um abismo entre pessoas qualificadas sem emprego e aquelas com pouca instrução, a qual não lhes permite alcançar as mais básicas funções. Não parece haver uma camada média entre esses dois pólos. É claro que a qualificação é sempre benéfica, nem que seja pelo puro aproveitamento intelectual. No entanto, é necessário haver uma conscientização de que no sistema em que vivemos é impossível o sol brilhar para todos.