Colaborador
Recentemente me formei Bacharel em Direito, antigamente isso seria orgulho de qualquer família externado com a clássica frase: “meu filho é Doutor!” Hoje a realidade é bem diferente, você termina seus estudos e diferentemente dos outros cursos, não sai habilitado para exercer a profissão. Existe o temido Exame da Ordem dos Advogados do Brasil, o qual tem índice de reprovação altíssimo. Mesmo passando na prova, o então novo advogado será apenas mais um dos mais de 80 mil aqui no Rio Grande do Sul. Por ironias do destino tenho o chamado registro precário de Jornalista, mesmo que tenha passado apenas um semestre na Faculdade de Comunicação Social, essa possibilidade surgiu para mim graças a uma liminar na justiça aliado aos meus anos de exercício da profissão como repórter de uma rádio. Aumentando a ironia, foram os doutos Ministros do STF que poucos anos atrás terminaram com a exigência do diploma de Jornalista.
Saindo do pessoal e entrando no social, tenho visto muitas matérias que propagam um grande número de empregos ditos atrativos que não são preenchidos pela falta de profissionais qualificados. A proximidade da Copa do Mundo e das Olimpíadas que, irão ser realizadas em nosso país, só aumentam os predicados que deve ter um trabalhador. Ouço falar que um garçom deve ter além de conhecimentos em inglês e espanhol, noções de italiano ou alemão. Acho difícil que esse profissional receba o suficiente para pagar cursos para todos esses idiomas. Algumas das vagas citadas nas matérias como boas são para operador de telemarketing e para conduzir maquinário industrial, arrisco dizer que essas carreiras não são as mais cobiçadas na atual sociedade.
Medidas tomadas durante o período de comando do Presidente Lula inegavelmente aumentaram o acesso de pessoas com menor poder aquisitivo em faculdades e, por conseguinte, também fizeram crescer a vontade das pessoas em cursar o ensino superior. As ideias expostas pelo candidato José Serra, o qual queria fazer o “PROUNI do ensino técnico” davam mostras de que a política do PSDB visava diminuir o alcance aos cursos de graduação. Uma coisa é inerente a quem conclui o ensino superior, querer atuar em sua área de formação e aí voltamos ao início da conversa que dá um exemplo sobre o mercado para os estudantes de Direito. Não há espaço na maioria dos setores para absorver todos que saem das instituições de ensino superior, o que acaba por gerar uma frustração. Alguns tentam montar seus próprios negócios e outros depois de certo tempo de prostração, começam a procurar por qualquer tipo de ocupação.
Em linhas gerais, a ambição criada com o maior acesso ao ensino superior não é suprida pelo mercado de trabalho e as pessoas penam para aceitar isso e se resignar em tentar sucesso em um emprego menos atraente ou com um status, em tese, inferior. Por vezes, parece que temos um abismo entre pessoas qualificadas sem emprego e aquelas com pouca instrução, a qual não lhes permite alcançar as mais básicas funções. Não parece haver uma camada média entre esses dois pólos. É claro que a qualificação é sempre benéfica, nem que seja pelo puro aproveitamento intelectual. No entanto, é necessário haver uma conscientização de que no sistema em que vivemos é impossível o sol brilhar para todos.
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