Por Vitória Bernardes
CUFA Eldorado
Acompanhei o Pretinho e gostaria de esclarecer algumas informações. A Rodaika comentou sobre problemas graves no acesso a saúde e sugeriu que as indenizações dadas às armas entregues à campanha do Desarmamento fossem aplicadas para suprir estas carências. Com certeza a saúde precisa de cuidados, mas é importante que todos saibam que armas de fogo (sejam acidentes, tentativas de suicídio, crimes) também geram um alto custo para a saúde. Além de números, o impacto na vida de vítimas de armas de fogo é imensa.
Aos 16 anos de idade fui atingida por uma bala perdida e, decorrente a isso, me tornei tetraplégica. Atualmente faço parte da Rede Desarma Brasil, que conta com a participação de diferentes ONGs do país como Viva Rio (RJ) e Instituto Sou da Paz (SP), e do Comitê Gaúcho por um Brasil sem armas, que conta com importantes representações como a CUFA, que em parceria com o Ministério da Justiça, são responsáveis em promover essa campanha.
É importante compreender que este assunto diz respeito a todos, inclusive aos inúmeros ouvintes do programa. Justamente pela abrangência que o Pretinho possui, mais do que falar sobre opiniões, é importante construí-las baseadas em fatos. Sendo assim, repasso os seguintes dados:
No Brasil há 16 milhões de armas em circulação. Destas, 2 milhões de armas estão nas mãos do Estado e 14 milhões em mãos civis.
Só em 2008 as armas de fogo ceifaram 34.678 vidas. São 95 por dia, 01 a cada 15 minutos (sem contar pessoas que, como eu, apesar das sequelas, permaneceram vivas)
O relatório da CPI do Tráfico de Armas mostra que 68% das armas apreendidas com criminosos haviam sido vendidas legalmente. Ou seja, as armas que matam os brasileiros são justamente as que a campanha do Desarmamento visa atingir. É importante esclarecer que a posse de arma representa risco a quem a possui. Se a deixarmos carregada, caso sua posse seja a fim de proteção pessoal, ela estará sujeita a acidentes fatais e, caso esteja descarregada, não dará tempo de realizar o procedimento. Sendo assim, possivelmente SUA ARMA será roubada e utilizada para práticas de crimes. Além disso, especialistas sempre frisam que reagir a um assalto aumenta as chances de latrocínio.
Nosso Estado possui uma história de luta, que muitas vezes é confundida com o uso da força física na defesa de seus princípios. Felizmente há uma mudança, mesmo tímida, neste contexto. Muitos possuem armas deixadas de herança ou a adquiriram de forma ilegal e, mesmo querendo se desfazer delas, não sabem como. A campanha quer atingir também este público, por isso não pede identificação e utiliza a indenização como estímulo.
Após a aprovação do Estatuto do Desarmamento houve queda acentuada nas taxas de homicídio por arma de fogo, mas houve novas altas em 2006 e 2008. A Campanha de Entrega voluntária, desde 2004/2005, é permanente, porém enfraqueceu ao decorrer dos anos seguintes (2004-2005: 472.855 armas, 2008: 18.121 armas, 2009: 13.749 armas). Como o sucesso nos primeiros anos contribuiu para a queda de homicídios, retomamos a campanha com o intuito de fortalecê-la.
A entrega voluntária de armas tem um objetivo baseado numa lógica simples: menos armas = menos mortes.
Espero que compartilhem esta idéia e repassem as informações.
Como entregar sua arma?
AUTORIZAÇÃO: Retire uma guia de trânsito no site da Polícia Federal (www.dpf.gov.br) para legalizar o trajeto com o material até o local de recolhimento
ARMAZENAMENTO: A arma deve ser entregue embalada e descarregada em uma unidade da Polícia Federal ou em entidades cadastradas. As munições devem ser levadas separadamente
ANONIMATO: No local de entrega, não será solicitada identificação pessoal. As armas podem ser ilegais
INUTILIZAÇÃO: A arma será inutilizada no ato da entrega, com uma marreta
PAGAMENTO: O dinheiro (de R$ 100 a R$ 300) estará disponível para saque no autoatendimento do Banco do Brasil um dia após a entrega
Mais informações em www.entreguesuaarma.gov.br
Agradeço a todos a compreensão! Qualquer dúvida, estou a disposição.
Grande abraço e PAZ
Vitória Bernardes
CUFA Eldorado
FONTES: VIVA COMUNIDADE, Estoque e Distribuição das Armas de Fogo no Brasil, 2010; PIMENTA, Paulo (deputado relator). Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar as organizações criminosas do tráfico de armas. Brasília: Câmara dos Deputados, 27.11.2006; SOU DA PAZ, 2010. Implementação do Estatuto do Desarmamento: do Papel para a Prática