sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pequenos Soldados do Bem

Por Leandro André
Diretor do Gazeta Centro-Sul

A comunidade da Vila São Jorge, em Guaíba, é uma das muitas no Brasil que, constantemente, acompanha notícias negativas sobre o que acontece na própria Vila devido a meia dúzia de figuras que teimam em agir fora da lei, acreditando que isso possa servir de atalho para algum lugar bacana. A ilusão dessa meia dúzia resulta numa carga negativa registrada nas páginas policiais, dando a impressão de que toda, ou a maioria daquela comunidade, trilha por este caminho marginal, quando na verdade é
o contrário.

Em agosto de 2010, estudantes guaibenses das escolas da Vila São Jorge deram um show de cidadania e superação, destacando-se em um festival nacional de dança realizado em Porto Alegre. O Projeto Vida conquistou o 1º lugar no II Brasil em Dança, que aconteceu no Teatro do CIEE, de 24 a 29 de agosto, na Capital Gaúcha. O evento teve na abertura a presença da bailarina Ana Botafogo.

Participaram 39 grupos na categoria Projeto Escola, na qual o Vida concorreu com a dança Soldadinhos de Chumbo. “Os projetos sociais tornam-se espaços permanentes dos nossos sonhos pessoais e coletivos”, ressaltou a professora e coreógrafa Rosaura Alves, responsável pelo trabalho apresentado.

De repente, a Vila São Jorge leva o nome de Guaíba para todo o Brasil de forma positiva. Os estudantes daquela comunidade pobre mostraram que podem muito, que possuem riqueza cultural. Mas o mais importante desta conquista foi o exemplo que deixaram a toda sociedade, ressaltando que as comunidades deste País possuem talentos importantes, capazes de superar grandes dificuldades e se destacarem nas artes, nos esportes, na ciência, na vida profissional e social, basta que a sociedade e o poder público lhes deem oportunidades e os vejam com olhos que transcendam a meia dúzia de marginais que teimam em acreditar no atalho sem saída.

Neste caso, os estudantes da Vila São Jorge demonstraram que são bem mais do que os soldadinhos de chumbo da Literatura, mostraram que são jovens vencedores, pequenos soldados brasileiros do bem.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

CUFA RS e o Comitê Gaúcho por um Brasil sem armas

Por Vitória Bernardes
CUFA Eldorado

Acompanhei o Pretinho e gostaria de esclarecer algumas informações. A Rodaika comentou sobre problemas graves no acesso a saúde e sugeriu que as indenizações dadas às armas entregues à campanha do Desarmamento fossem aplicadas para suprir estas carências. Com certeza a saúde precisa de cuidados, mas é importante que todos saibam que armas de fogo (sejam acidentes, tentativas de suicídio, crimes) também geram um alto custo para a saúde. Além de números, o impacto na vida de vítimas de armas de fogo é imensa.

Aos 16 anos de idade fui atingida por uma bala perdida e, decorrente a isso, me tornei tetraplégica. Atualmente faço parte da Rede Desarma Brasil, que conta com a participação de diferentes ONGs do país como Viva Rio (RJ) e Instituto Sou da Paz (SP), e do Comitê Gaúcho por um Brasil sem armas, que conta com importantes representações como a CUFA, que em parceria com o Ministério da Justiça, são responsáveis em promover essa campanha.

É importante compreender que este assunto diz respeito a todos, inclusive aos inúmeros ouvintes do programa. Justamente pela abrangência que o Pretinho possui, mais do que falar sobre opiniões, é importante construí-las baseadas em fatos. Sendo assim, repasso os seguintes dados:

No Brasil há 16 milhões de armas em circulação. Destas, 2 milhões de armas estão nas mãos do Estado e 14 milhões em mãos civis.
Só em 2008 as armas de fogo ceifaram 34.678 vidas. São 95 por dia, 01 a cada 15 minutos (sem contar pessoas que, como eu, apesar das sequelas, permaneceram vivas)
O relatório da CPI do Tráfico de Armas mostra que 68% das armas apreendidas com criminosos haviam sido vendidas legalmente. Ou seja, as armas que matam os brasileiros são justamente as que a campanha do Desarmamento visa atingir. É importante esclarecer que a posse de arma representa risco a quem a possui. Se a deixarmos carregada, caso sua posse seja a fim de proteção pessoal, ela estará sujeita a acidentes fatais e, caso esteja descarregada, não dará tempo de realizar o procedimento. Sendo assim, possivelmente SUA ARMA será roubada e utilizada para práticas de crimes. Além disso, especialistas sempre frisam que reagir a um assalto aumenta as chances de latrocínio.

Nosso Estado possui uma história de luta, que muitas vezes é confundida com o uso da força física na defesa de seus princípios. Felizmente há uma mudança, mesmo tímida, neste contexto. Muitos possuem armas deixadas de herança ou a adquiriram de forma ilegal e, mesmo querendo se desfazer delas, não sabem como. A campanha quer atingir também este público, por isso não pede identificação e utiliza a indenização como estímulo.

Após a aprovação do Estatuto do Desarmamento houve queda acentuada nas taxas de homicídio por arma de fogo, mas houve novas altas em 2006 e 2008. A Campanha de Entrega voluntária, desde 2004/2005, é permanente, porém enfraqueceu ao decorrer dos anos seguintes (2004-2005: 472.855 armas, 2008: 18.121 armas, 2009: 13.749 armas). Como o sucesso nos primeiros anos contribuiu para a queda de homicídios, retomamos a campanha com o intuito de fortalecê-la.

A entrega voluntária de armas tem um objetivo baseado numa lógica simples: menos armas = menos mortes.
Espero que compartilhem esta idéia e repassem as informações.

Como entregar sua arma?

AUTORIZAÇÃO: Retire uma guia de trânsito no site da Polícia Federal (www.dpf.gov.br) para legalizar o trajeto com o material até o local de recolhimento

ARMAZENAMENTO: A arma deve ser entregue embalada e descarregada em uma unidade da Polícia Federal ou em entidades cadastradas. As munições devem ser levadas separadamente

ANONIMATO: No local de entrega, não será solicitada identificação pessoal. As armas podem ser ilegais

INUTILIZAÇÃO: A arma será inutilizada no ato da entrega, com uma marreta

PAGAMENTO: O dinheiro (de R$ 100 a R$ 300) estará disponível para saque no autoatendimento do Banco do Brasil um dia após a entrega
Mais informações em www.entreguesuaarma.gov.br
Agradeço a todos a compreensão! Qualquer dúvida, estou a disposição.
Grande abraço e PAZ

Vitória Bernardes
CUFA Eldorado

FONTES: VIVA COMUNIDADE, Estoque e Distribuição das Armas de Fogo no Brasil, 2010; PIMENTA, Paulo (deputado relator). Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar as organizações criminosas do tráfico de armas. Brasília: Câmara dos Deputados, 27.11.2006; SOU DA PAZ, 2010. Implementação do Estatuto do Desarmamento: do Papel para a Prática