segunda-feira, 18 de abril de 2011

Demorei, mas está aqui

Por Manoel Soares
Publicado no Diário Gaúcho

Um leitor de nome João Carlos me mandou e-mail dizendo que esperava que eu me pronunciasse sobre o caso do deputado carioca Jair Bolsonaro, que esculachou os negros em rede nacional e depois falou que estava falando dos gays.

Na verdade, não me omiti no assunto, somente fiquei observando para ver até onde ia e, como eu previa, o papo morreu. Quem ganhou foi o racista, que teve uma baita mídia.
Porém, deu para chegar a algumas conclusões. A primeira é que a sociedade acredita que o racismo é um problema dos negros, o que não é verdade. Essa anomalia social deve ser combatida por todos.

Outra é que, de certa forma, é positivo, porque mostra que, quando os negros denunciam casos de racismo, não estão querendo chamar atenção. Racista não é extraterrestre, não é ET, ele existe e é daqui mesmo.

Outro aspecto desse assunto, para mim, o mais sério, é o silêncio da comunidade negra. É como se fôssemos açoitados e cuidássemos para que nosso choro não perturbasse o sono do filho do senhor de engenho.

Fico motivado quando vejo exemplos de negros que fazem faculdade, que se destacam nas suas carreiras e vidas pessoais, entretanto, a apatia da nossa massa nessas horas me decepciona. Contraditoriamente, quando o centro do problema é outro negro, muitas vezes atacamos em massa como se o pecado fosse maior.

Vou nessa, galera, como negro e favelado, sinto-me à vontade para fazer essa reflexão. Afinal, o deputado Jair Bolsonaro passa, mas o preconceito fica, e é bem maior do que o que vemos na televisão.

Felicidades, galera. Até semana que vem!

Bolsonaro: o Brasil de verdade?

Por Rodrigo Ramos
Colaborador

É comum o discurso médio brasileiro exaltar a nossa miscigenação e dizer que não existe racismo no Brasil em virtude de nosso traço histórico-genético. Se esquecem que não houve nenhum escravo branco em nossa história, no máximo existiram trabalhadores que vieram da Europa e foram explorados largamente, se bem que isso acontece até os dias atuais.

Vivemos, ou pensamos viver em uma Democracia e por mais absurdas, destemperadas e revoltantes que as declarações do Deputado Federal do Rio de Janeiro possam parecer, ele tem direito de externá-las. O que realmente me assusta é o número de pessoas que compartilham das opiniões do polêmico congressista. Claro, é bom ressaltar que ele não pode ofender outros ao expor suas ideias e não cometer crimes ao preferir suas palavras.

Vejo muitos falarem contra as cotas raciais nas Instituições de Ensino Superior, eu mesmo não acho que isso seja ideal, enxergo esse tipo de política um paliativo. É urgente e necessária a retomada de uma qualidade aceitável nos ensinos médio e fundamental proporcionados pelo poder público. Mas, por enquanto, a medida das cotas tem de ser feita. Estudei em algumas escolas estaduais e tinha poucos colegas negros, nem preciso dizer que nas instituições particulares nas quais estudei não consigo encher uma mão com os colegas de classe afrodescendentes. Não há argumento que derrube o fato de que é muito mais difícil o acesso das minorias aos quadros dos ensinos superiores. Enquanto isso, passo diariamente pelo estacionamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e vejo muitos carros, boa parte deles nacionais de luxo ou importados.

Existe sim racismo no Brasil! E isso pode ser percebido nos pequenos gestos, desafio alguém me dizer que nunca desviou de calçada por ter visto um negro em trajes ditos maltrapilhos. Por outro lado, nunca ouvi ninguém que tenha mudado sua rota em função de ter passado perto de um caucasiano com terno ou algo que o valha. Sem falar nos crimes de colarinho branco, temos muitos assaltantes que se trajam de forma considerada de alto nível para cometer seus ilícitos com maior facilidade. Estamos em 2011 porém, os relacionamentos interraciais duradouros ainda são raros e não poucas vezes causam mal estar para as famílias do casal. Sem falar no racismo inconsciente, muitos brancos sequer conseguem ver beleza em pessoas negras.

Se o racismo ainda é tabu, por óbvio, a homossexualidade também o é. Aqui no Rio Grande do Sul, muitos brincam que a única coisa pior do que ter um filho homossexual, seria ter um herdeiro que torcesse contra o seu time do coração, vide a rivalidade absurda entre os dois grandes times de futebol do estado. A questão da sexualidade me remete de pronto à vontade dos pais em ver seus filhos transformados em cópias do que eles, pais, são. Com isso, os casais, que em sua maioria são heterossexuais têm enormes dificuldades em aceitar uma opção diferente por parte de seus rebentos.

Temos muito a evoluir e em diversos aspectos, fica latente que o Brasil está longe de ser a terra de liberdades e libertinagens que alguns dizem ser, temos um lado muito conservador, ainda vivemos muito atrelados aos princípios de Deus, Pátria, Família e Propriedade Privada. Alguns ainda não aceitam o Estado Democrático de Direito e, ainda pior, temos um número expressivo de jovens que se declaram conservadores de direita, espero que o nosso país não retroceda.

RECONHECIMENTO AFRO-ASCENDENTE

Por Frank Domingues
Colaborador

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado... Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

É com essas frases que um dos maiores ícones NEGRO, que lutou por nossa liberdade em tempos de outrora, e que ainda ecoou em todos os homens como forma de incentivo a luta pacífica pela igualdade. Estou falando de Martin Luther King Jr. (Atlanta, 15 de janeiro de 1929 — Memphis, 4 de abril de 1968).

Em uma sala de espera do dentista, resolvi pegar um jornal local para entreter-me enquanto não chegava minha vez. E como tem todos os jornais do país à época, a notícia de destaque era; A visita de Obama, “o homem mais poderoso do mundo”. Com toda certeza, o presidente americano é modelo de inspiração para todos os homens e mulheres de vários cantos do planeta, principalmente para os negros.

Continuo minha leitura, e uma foto chamou a atenção notavelmente. Nossa presidenta, Dilma Rousseff brindando uma taça de Champgne ao grande líder Luther King. Logo me questionei: Se me lembrara de ver a presidenta envolvida com alguma entidade afro brasileira? Como podemos brindar ícones gringos enquanto tempos notórios nacionais e COMPLETAMENTE ESQUECIDOS, principalmente por órgãos políticos? Antes de comemorar a casa alheia, devemos arrumar a nossa. Será que eles fizeram algum brinde ao nosso ZUMBI dos PALMARES (Alagoas 1655 – 1695. Batizado de Francisco por missionário)? GANGA ZUMBA, DANDARA? Será que o presidente americano já ouviu falar deles?

Fiquei certo que o mundo da politicagem e cínico e um jogo de interesses, e que fazem de tudo para ter benefícios, usando nome de tudo e todos, inclusive em nome do povo. Ou melhor, tudo em nome do povo. Por isso que os pobres de modo amplo e geral devem ir para “guerra” contando apenas com a coragem, e esquecer que o governo deveria ajudar. Ajudar com escolas, cultura, lazer. Enquanto não ajuda, devemos cobrar em paralelo enquanto sobrevivemos e lutamos para ter o mínimo de dignidade.

O primeiro passo que deveríamos mostrar a quem deveria, é a honestidade. Ela não tem classe social, nem cor e nem credo. É fácil dizer que a escola e longe, que pobre tem que trabalhar, que o governo não faz nada, mas pobre guerreiro não se esconde na facilidade, ele enfrenta a dificuldade e mostra para a política que não dependemos dela para ser notório.

Através da nossa vitória, podemos ensinar aos filhos, amigos, parentes e a tantos outros, a história da luta dos antepassados negros brasileiros, contra a escravidão, a segregação racial e exclusão. Podemos dizer que ZUMBI e nosso mártir e quem foi Luther King, e a sua luta pela liberdade americana, e que todos os ícones de todas as nações que lutaram pela liberdade, intervieram positivamente em todo o canto mundial.