segunda-feira, 18 de abril de 2011

Bolsonaro: o Brasil de verdade?

Por Rodrigo Ramos
Colaborador

É comum o discurso médio brasileiro exaltar a nossa miscigenação e dizer que não existe racismo no Brasil em virtude de nosso traço histórico-genético. Se esquecem que não houve nenhum escravo branco em nossa história, no máximo existiram trabalhadores que vieram da Europa e foram explorados largamente, se bem que isso acontece até os dias atuais.

Vivemos, ou pensamos viver em uma Democracia e por mais absurdas, destemperadas e revoltantes que as declarações do Deputado Federal do Rio de Janeiro possam parecer, ele tem direito de externá-las. O que realmente me assusta é o número de pessoas que compartilham das opiniões do polêmico congressista. Claro, é bom ressaltar que ele não pode ofender outros ao expor suas ideias e não cometer crimes ao preferir suas palavras.

Vejo muitos falarem contra as cotas raciais nas Instituições de Ensino Superior, eu mesmo não acho que isso seja ideal, enxergo esse tipo de política um paliativo. É urgente e necessária a retomada de uma qualidade aceitável nos ensinos médio e fundamental proporcionados pelo poder público. Mas, por enquanto, a medida das cotas tem de ser feita. Estudei em algumas escolas estaduais e tinha poucos colegas negros, nem preciso dizer que nas instituições particulares nas quais estudei não consigo encher uma mão com os colegas de classe afrodescendentes. Não há argumento que derrube o fato de que é muito mais difícil o acesso das minorias aos quadros dos ensinos superiores. Enquanto isso, passo diariamente pelo estacionamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e vejo muitos carros, boa parte deles nacionais de luxo ou importados.

Existe sim racismo no Brasil! E isso pode ser percebido nos pequenos gestos, desafio alguém me dizer que nunca desviou de calçada por ter visto um negro em trajes ditos maltrapilhos. Por outro lado, nunca ouvi ninguém que tenha mudado sua rota em função de ter passado perto de um caucasiano com terno ou algo que o valha. Sem falar nos crimes de colarinho branco, temos muitos assaltantes que se trajam de forma considerada de alto nível para cometer seus ilícitos com maior facilidade. Estamos em 2011 porém, os relacionamentos interraciais duradouros ainda são raros e não poucas vezes causam mal estar para as famílias do casal. Sem falar no racismo inconsciente, muitos brancos sequer conseguem ver beleza em pessoas negras.

Se o racismo ainda é tabu, por óbvio, a homossexualidade também o é. Aqui no Rio Grande do Sul, muitos brincam que a única coisa pior do que ter um filho homossexual, seria ter um herdeiro que torcesse contra o seu time do coração, vide a rivalidade absurda entre os dois grandes times de futebol do estado. A questão da sexualidade me remete de pronto à vontade dos pais em ver seus filhos transformados em cópias do que eles, pais, são. Com isso, os casais, que em sua maioria são heterossexuais têm enormes dificuldades em aceitar uma opção diferente por parte de seus rebentos.

Temos muito a evoluir e em diversos aspectos, fica latente que o Brasil está longe de ser a terra de liberdades e libertinagens que alguns dizem ser, temos um lado muito conservador, ainda vivemos muito atrelados aos princípios de Deus, Pátria, Família e Propriedade Privada. Alguns ainda não aceitam o Estado Democrático de Direito e, ainda pior, temos um número expressivo de jovens que se declaram conservadores de direita, espero que o nosso país não retroceda.

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