domingo, 10 de julho de 2011

Limpando a farda

Por Manoel Soares
Postada em 24 de junho no Diário Gaúcho

Estou fazendo, por meio da Cufa, um trabalho bem maneiro com os jovens internos da Fase, onde eles estão discutindo comunicação. Entre outras coisas, eles discutem o papel que temos na sociedade. Não estou tendo o menor problema com a parte técnica ou conceitos de comunicação. Eles são ligados e inteligentes.
Ontem, quase que o bicho pegou quando começamos a falar sobre a polícia. Todos tinham uma história de dor envolvendo a Brigada MiIlitar. Um dos meninos contou que seu primeiro contato com a Brigada foi aos seis anos, quando durante uma revista à sua casa, o policial jogou o botijão de gás na cama onde ele estava deitado com a irmã mais nova.

É injusto condenar os mais de 30 mil policiais que temos no Estado por conta de alguns torturadores, maníacos e homicidas que se escondem atrás do honrado brasão da Brigada Militar, mas a própria corporação deve se dar conta que terá que ser mais firme quando o assunto é a limpeza interna.

A expulsão da Brigada do assassino do jovem boxeador Tairone Silva, de Osório, é um gesto que deve ser regra. As comunidades precisam acreditar que a lei também se aplica aos homens da lei. Nas periferias do Estado, o ódio pela polícia é uma herança passada de pai para filho. Muitos odeiam a Brigada pelo que ela fez ao seu avô, e este ciclo de medo e violência não termina.

Chegou a hora da Brigada Militar conversar com as comunidades, sentar e ouvir. Óbvio que teremos que ouvir também. A polícia não foi inventada para nos dar pau, e isso vai ter que mudar, mas ambas as partes têm que baixar a guarda. Estou começando um projeto com um batalhão da Capital para que a comunidade ouça e fale sobre a relação deles com a polícia.

Depois de ter ido à África do Sul, entendi que esta aproximação é possível, mas não vai acontecer se não houver estímulo. Todos nós perdemos se esta relação continuar assim: a comunidade tem ao lado uma polícia na qual não confia, os bons policiais sofrem por conta das atitudes dos maus policiais e a cidade vive as consequências deste conflito.

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