Por Manoel Soares
Publicado em 28 de Fevereiro no Diário Gúcho
Nesta semana, eu assumi, no Jornal do Almoço, o quadro Caminhos de Verão. Estou percorrendo várias praias do Litoral Norte, muitas delas pouco conhecidas, mas muito lindas.
Paralelamente a essas experiências, comecei a notar que existe uma parcela da população nativa que vive em situação de extrema miséria. Pessoas que são obrigadas a viver o ano todo com o medo de não saber o que vai comer no outro dia. Se, para os veranistas, curtir uns dias na praia é alívio, para eles, é a possibilidade de ter um pouco mais de dignidade.
Conversando com alguns jovens que estavam sentados à beira-mar em Tramandaí, um deles me disse que, quando tinha oito anos, tomou uma surra de um grupo de veranistas. Ele invadiu uma casa para roubar comida. Claro que, por pior que seja a situação dos nativos, eles não têm o direito de invadir a casa de ninguém. Por outro lado, não ter uma solução para as periferias do litoral estimula cada vez mais esses delitos.
Não há como crescer economicamente sem proporcionar desenvolvimento humano aos mais pobres. Se a galera da favela vê uma parcela da sociedade crescendo e ela só se afundando, aos poucos, vai se convencendo que pode chutar o balde por não ter nada a perder. Nessa hora, começam os conflitos.
Ricos e pobres sempre vão existir, mas uma casa com duas piscinas perto de gente que cata lixo na beira da praia é combustível para a violência. Não concordo com favelado que usa a miséria para advogar em causa própria. Por pior que seja nossa situação, meter um ferro na cintura e partir pro arrebento nunca é solução, mas a solidariedade humana de quem tem mais e a responsabilidade social dos poderes públicos locais também deve falar alto, se não, a avalancha desce mesmo e a casa cai.
Óbvio que, no meio disso, existem os viciados em pedra, os que não têm intimidade com o trabalho e os filhinhos de papai que veem em “pagar de bandido” uma vida emocionante, mas estes aí em pouco tempo recebem o que merecem.
Valeu, galera!