quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A essência da Favela: é o que desejo para todos em 2011.

Artigo para o Editorial da CUFA Brasil

Há mais ou menos sete anos venho acompanhando e aprendendo mais sobre diferentes realidades sociais de comunidades ditas vulneráveis e que, na maioria das vezes, são excluídas dos processos políticos e de desenvolvimento econômico. Com isso, pude começar a construção de minhas opiniões e visão crítica dessas realidades, onde eu também estava incluída.

Mas, desde que conheci a CUFA, passo por um processo inverso de desconstrução de todas as minhas concepções e percebo que poucos, a começar por mim, realmente conhecem e entendem a realidade, por exemplo, de uma favela e seus moradores. A sociedade em geral se cobre de uma moral que culturalmente separa os “bons” dos “maus” - mesmo sem ter certeza do que é bom e mau - que afasta os problemas para fingir que eles não existem e rejeitam qualquer outro tipo de visão que não se enquadre nos seus moldes, sem se quer buscar se informar e debater.

Um exemplo prático disto, aconteceu esta semana, onde a coordenadora de uma das bases da CUFA no Rio Grande do Sul, recém eleita, foi questionada do por quê estava assumindo uma entidade que tem “visão de pobre”, que pratica esporte na rua ao invés de colocar em quadras bem estruturadas, que não busca melhorar e mudar as favelas para “bairros”.

Isto demonstra a total falta de informação e conhecimento não só sobre o trabalho da CUFA mas, principalmente sobre o contexto em que vivem as famílias em suas comunidades e suas aspirações. O esporte de rua, a moradia e a falta de infra estrutura não foram escolhas e sim as únicas opções. No entanto, percebo nas pessoas, o sentimento de viver bem em comunidade, de ajudar uns aos outros e participar da vida das pessoas sem preconceitos ou pré julgamentos. Ao contrário dos bairros onde predomina uma classe média alta, onde a visão capitalista determina que ali é cada um por si e Deus que se vire por todos.

Em apenas dois anos entrei, virtualmente, em diversas favelas de todos os Estados brasileiros, com suas diferentes características, com seus diferentes modos de (sobre)vida mas, com algo em comum, a tão sonhada união, solidariedade e alegria de viver entre as pessoas.

Mesmo com todos os entraves sociais, que a sociedade em geral insiste em ignorar, vemos todos os dias nas comunidades mutirões de moradores para construir a casa de um vizinho. Ou então, a mobilização para ajudar a levar um doente ao hospital - já que são poucas as ofertas de postos de saúde ou pela dificuldade de trafegabilidade dentro das favelas. Claro que isso não acontece em todas as comunidades mas, essas situações, não são exceções dignas de uma matéria no telejornal, como acontece nos bairros de classe alta, por exemplo.

Os esportes praticados nas ruas se fortaleceu pela convivência diária entre os moradores. Se reunindo para conversar, cantar, jogar, enfim, viver. Até por que, se fossem esperar para ter uma quadra ou campo adequados para a prática de esportes, não teríamos tantos reis e príncipes do futebol ou do basquete brilhando dentro e fora do país.

Temos que deixar de lado a falsa moral que não responde mais aos nossos questionamentos e que não apresenta soluções realistas e adequadas aos diferentes contextos sociais das comunidades brasileiras. Temos que parar de pensar que para sermos felizes temos que seguir à risca a essência do capitalismo que faz das pessoas individualistas e egoístas, com metas de acúmulo de riquezas às vezes às custas da pobreza dos outros.

As favelas querem deixar de ser favelas pelo conceito de espaços de violência, criminalidade, falta de capacidade intelectual e tantos outros estigmas históricos que lhe foram impostos mas, não querem perder a sua essência, a de viver bem em sociedade e crescer juntos onde todos multiplicam suas riquezas.

Náthaly Weber
Relações Públicas, Coordenadora de Comunicação da CUFA RS.

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