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Coluna Semanal 14 de janeiro de 2011 Jornal Diário Gaúcho
A maioria dos que conheço tem uma necessidade constante de ser visível, combater o anonimato, que insiste em nos perseguir, e nós, por nossa vez, fugir da invisibilidade.
Muitos, nessa tentativa, perdem o controle e batem nos muros da vida. O problema é que definir o sucesso nos dias de hoje passa por ser reconhecido para os outros, é como se nosso lugar no mundo dependesse de como as pessoas nos veem.
Há muito tempo, li em um livro que, na África, quando uma criança nascia, seu pai levava o bebê até o ponto mais alto que conhecia e cochichava no ouvido do filho o nome dele, pois deveria ser a primeira pessoa a ouvir o próprio nome. Depois disso, ele erguia o nenê para o céu e gritava:
- Esta é a única coisa maior do que você neste mundo!
Desse momento em diante, o pequeno africano ganhava uma identidade que lhe acompanhava pelo resto da vida, tivesse ele duas cabras ou 5 mil camelos.
O problema é que, na nossa cultura, é diferente. O que temos nos define como indivíduos e, enquanto não temos, não somos. Isso nos consome a ponto de corroermos o que nos cerca.
Não é somente uma questão de consumo, mas de forma de ver a vida, pois quem acha que se tornou melhor por ter um tênis, um celular ou um carro jamais será melhor do que é. Tentar compensar as limitações pessoais com bens materiais é como comer sabão por acreditar que tem gosto de queijo. De tanto fazer isso, a pessoa esquece que gosto realmente tem o queijo.
É óbvio que ter conforto contribui para a felicidade, ninguém pode ser feliz se ver que está na rabeira da cadeia alimentar. Entretanto, nosso sucesso externo é somente o reflexo do nosso sucesso interno. Inverter essa lógica pode ser perigoso, é nos fazer de marionetes de consumo em um mundo que não existe.
O ideal é que a nossa visibilidade seja calçada no que somos e isto resulte em termos tudo que merecemos. Afinal, quem gosta de pobreza é intelectual.
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