sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Manual das crias

Por Manoel Soares
publicado em Diário Gaúcho 04\11

Se quisermos colocar tudo no mesmo saco, podemos dizer que o ser humano parece adorar quebrar laços. Muitas vezes, sem saber e sem querer, rompemos o que temos de mais precioso por palavras não ou mal ditas. A juventude é especialista na arte de expressar suas vontades de forma agressiva e descontrolada. Lembro-me dos meus 17 anos, e minha mãe merece uma medalha, pois eu era asqueroso. Por sinal, minha mãe recomendou que, nesta semana, falássemos da falta de habilidade de muitos pais para lidar com as fases dos filhos.
Temos os moderninhos, que liberam demais, ou os que prendem tanto que, na hora em que a molecada se solta, sai fazendo tudo que lhe foi proibido.
A moral é tentar manter uma relação honesta e saudável com os filhos para que o caminho do diálogo esteja sempre aberto.
Infelizmente, há pais que, quando o filho é criança, têm uma postura de "capitão Nascimento". Quando ele cresce, começam a bater de frente e a falar alto. Aí, o pau quebra e as relações vão para a banha. Não podemos confundir firmeza com agressividade, senso de justiça com birra.
Uma coisa importante esquecida por pais é que não precisam disputar com os filhos, e sim orientá-los. Não precisam mostrar quem manda, mas quem tem experiência de vida para ajudar. O complicado é achar a forma correta de entrar na mente dos filhos, pois eles, volta e meia, acham-se mais espertos e se arrebentam por isto.
Uma dica da minha mãe é não termos como base das decisões a nossa vontade, mas o que é correto, puxar os filhos para a razão lógica e ética. É importante lembrar também que crianças e adolescentes aprendem mais pelas ações do que pelas palavras. Esse papo de "faça o que eu digo, não faça o que eu faço" não cola mais.
Quem não dá exemplo não tem moral para impor. Temos de ficar atentos para não deixarmos as "crias" escaparem por entre os nossos dedos. Forte abraço!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Compreensão

Por Leandro André

O conceito que melhor define comunidade é o lugar onde os indivíduos vivem em comum. Quase todas as pessoas no Planeta vivem em comunidades e o que as diferencia é a qualidade de vida. As mais pobres, com menos qualidade de vida, e as mais ricas, com mais. Fazendo uma análise apressada, encontramos a justificativa óbvia de que o dinheiro faz toda a diferença. No entanto, conclusões apressadas mascaram as coisas. Então, de forma objetiva, vamos um pouco além do óbvio nessa análise.

Com a violência generalizada no Brasil, tem sido cada vez mais comum a formação de condomínios fechados, onde a classe média alta tenta se esconder, fugir da realidade. São lugares bonitos, com belas mansões e jardins cinematográficos, que evidentemente proporcionam certa segurança e qualidade de vida para seus ocupantes. Mas o ser humano consegue ser feliz, de verdade, vivendo em bolhas completamente diferentes da realidade da imensa maioria?

Vamos deixar um pouco os ricos em suas bolhas e analisarmos as comunidades pobres das periferias, onde vive a imensa maioria da população brasileira. Por que algumas são organizadas, limpas, com saneamento e casas coloridas, enquanto outras são imundas, têm o esgoto correndo a céu aberto e o Estado não chega? Por que a diferença se a questão não é a quantidade de dinheiro de seus moradores?

Eu me atrevo a responder as duas perguntas que fiz nos parágrafos acima. Não, não é possível ser feliz vivendo em bolhas, completamente diferentes da realidade. Pode aliviar, mas o ser humano não nasceu para viver em bolhas. O cotidiano se encarrega de provar isso.

Em relação às diferenças de comunidades pobres, sendo algumas bem organizadas, bacanas, e outras um caos, o motivo está na união dos seus morados e na compreensão da importância desta união. Se o poder emana do povo, conforme garante a Constituição, então o poder está nas comunidades. As que conseguem perceber isso e se organizar alcançam melhor qualidade de vida, ao contrário das que vivem na sombra da ignorância e da pobreza do individualismo. Parece conclusão de almanaque. E até pode ser. No entanto, não adianta enrolar, pois é assim mesmo.

Eu acredito que as comunidades precisam compreender a força que têm quando seus indivíduos se unem pelo bem comum. E quando isso acontecer em nosso País, de forma ampla, então vamos ascender como sociedade e não haverá mais a necessidade dos mais ricos se refugiarem em bolhas e os mais pobres viverem pulando esgoto a céu aberto.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

12 de Outubro. Que data e essa?

Por Frank Domingues

12 de outubro data comemorativa a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Data incorporada consumistamente ao dia das crianças. Ela ficou tão marcante como dia das crianças que até foi esquecido o real motivo da celebração. O que devemos relembrar nessa data? Será que devemos pensar na Santa, na religião que aos poucos está desvaindo na sociedade moderna, deixando as pessoas menos próximas de DEUS e também de seus semelhantes? Ou das crianças que alegram o mundo e de seus sorrisos ao ganhar o presente físico?
 Podíamos, ou melhor, deveríamos celebrar a Santa respeitando seus atos, melhorando nossas atitudes cristãs para com todos e incorporar esse espirito fraterno aos ensinamentos às crianças para que sigam os passos de caridade, compreensão e amor ao próximo. Passos que anda em falta em nosso meio, no mundo moderno e globalizado.
 Hoje não se fala mais em religiosidade. Não se fala em família, exceto em datas comemorativas que, mesmo que de modo raso, toque esse sentimento. Quando cito religiosidade, não e defendendo qualquer religião, mas o espirito que leva ao criador independente de que instrumento se utilize. Nossa obrigação é de instruir as futuras mentes pensadoras da importância dos preceitos éticos e deixar em terceiro plano o espirito de consumo e competitividade.
 Como poderemos explicar a um pequeno por que o amiguinho ganhou uma bicicleta e ele um boneco de R$ 1,99? Será de menor dificuldade e de maior necessidade explicar o real motivo do dia 12 de outubro e sua celebração de que fazê-lo entender que seu salário só podia adquirir um boneco. Explicar a um menino que já tem espirito fraterno e mais acessível que algum que não tem ou teve uma família que o ensinara. 
 O capitalismo, ou melhor, a globalização tomou proporções imensuráveis em um período curtíssimo que não nos deu chance adestrar e dominar a situação. Enquanto a religiosidade levou dois mil anos para ter proporções mundiais, a globalização não levou cem. Como dominar algo que cresceu ferozmente e com vontade própria? Um animal que com auxilio dos meios de informação proporciona e incentiva competitividade agressiva desconsiderando a camada e à quem irá atingir.
  A nós, menos agraciados financeiramente, resta-nos explicar aos pequeninos próximos, e dar-lhes a informação que devemos possuir e adquirir para que essas cabeças não se percam em busca da igualdade e equiparação imposta pela globalização. Uma mente perdida faz mais estragos em amplitudes estratosféricas do que uma cabeça com uma boa base e instrução familiar sólida.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O EXEMPLO

Por Frank Domingues

...esse é o lado certo da vida erra! Assim começa uma frase usada nos morros e favelas brasileiras para justificar a justiça imposta aos devedores e meliantes aos quais ficam em divida com a “comunidade”.
Quando cito do Brasil, e com todo contexto da frase,não pense que apenas restrito a grandes capitais. Isso também esta ocorrendo em pequenas cidades do interior e zonas rurais. Além de terem de lidar com as amarguras de terem filhos usuários e dependentes químicos, as famílias tem que suportar os castigos impostos pelo tráfico. Castigos físicos que servem de exemplo para não cometerem mais delitos e para evitarem que surjam novos infratores.
Esses infratores nunca escapam do júri da periferia. Sentenças, bastantes severas, que muitas vezes deixam marcas eternas ou levam os julgados à morte. Certa manhã de domingo, presenciei uma cena no HPS da minha cidade. Houve certa movimentação próxima à emergência. Vi quando solicitaram a reserva da sala para a realização de um exame de emergência. Após alguns instantes entra Leandro (nome fictício do adolescente de 14 anos filho de um amigo). Com as mãos enfaixadas, marcas de choro e dor no rosto. As ataduras manchadas de vermelho denunciava alguma ferida de difícil estancamento.
Logo me pus a buscar saber o que houve e tentar ligar para meu amigo. Leandro me reconheceu e em lágrimas começou a chorar e pedir para ligar para sua mãe. Após alguns instantes, fui retirado da sala de emergências e apenas ouvia uivos de dor do menino. Algumas horas após, o médico veio até mim para saber se eu o conhecia e também aos seus pais. Respondi que sim, e que já havia ligado para ambos, mas não obtive sucesso. Falei também que poderia assinar a documentação de entrada do menino.
No desenrolar da conversa, o médico me disse que ele teve todos os ossos das mãos violentamente quebrados, pois o mesmo teve as duas mãos postas em cima de um paralelepípedo e recebeu cinco marretadas em cada uma delas. Seria difícil a reconstrução e recuperação óssea, e que provavelmente, terias ambas as mãos amputadas. Seguidamente chegara seus pais, relatei as palavras do médico a eles e minha suspeita confirmou-se nas palavras de um pai em sofrimento: ele devia R$ 200,00 ao tráfico.
A tristeza da família eterna representa um futuro destruído pelas drogas e uma vida limitada por dever R$ 200,00. Seria melhor que tivesse sido executado do que viver nessa tristeza profunda e ilimitada para qual a família viverá?
Ao menos que esse tipo de situação sirva, para que, muitos que estão pensando em vacilar e entrar para essa vida de castelo de ilusões, opte por seguir o caminho mais difícil que esse sim trará a verdadeira felicidade. Aos pais que também conhecem o Leandro tomem atitude de conversar abertamente com seus filhos para manter longe desse mundo miserável e sem volta, a final, o verdadeiro malandro e esperto é aquele que aprende com os erros dos outros.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Racismo doce

Por Manoel Soares
Publicado em O Diário Gaúcho, 09 de setembro de 2011.

Sempre que falo sobre racismo ou outras formas de preconceito as pessoas pensam que é porque sou negro, parte desse pensamento é verdade, o fato de ser negro me faz saber experiencialmente o peso de ser sub-julgado por conta de uma característica física.

Porém, minha luta não é em causa própria, não é em favor dos negros, mas em favor do que acho certo. Existem leis que são falhas, que não correspondem ao que é justo, neste e em outros assuntos. As leis um dia permitiram que pessoas fossem espancadas, vendidas e escravizadas, hoje essas leis são repugnadas por nós, assim como nossa lei de hoje um dia será motivo de vergonha para as gerações futuras. Mas se as leis não são nosso norte, o que devemos seguir então?

Acredito que o bom senso, a capacidade natural de se colocar no lugar do outro, essa deve ser nossa meta sempre, se assim fizermos a chance de nos rendermos aos pré-conceitos é mínima. Estão chegando a mim muitas histórias de crianças negras que são tratadas de maneira hostil pelos colegas na escola, as professoras se defendem dizendo que fazem de tudo para que isso não aconteça, por outro lado não podem fazer nada se os pequenos reproduzem as lições aprendidas em casa.

Estes dias li em um twitter que o berço é o adubo do preconceito, sou obrigado a concordar, as palavras ditas no ultimo domingo pelo ator Robrigo Lombardi no Domingão dos Faustão na final da Dança dos Famosos indica isso. Ele disse que apesar de ser negro, baixinho e caolho o cantor e dançarino Sammy Davis Junior no palco parecia um loiro, alto de olhos azuis. Quem disse que o bonito é assim?

Na ignorante inocência de suas palavras o ator global vomitou o mais doce preconceito que mora em milhares de corações que reproduzem o conceito de sucesso imposto por uma educação social baseada em um ideal quase nazista.

Cabelo ruim, nuvem negra, passado negro entre outros termos fazem parte desse cotidiano racista que nos invade diariamente. Convém lembrar aos que ficam pessimistas que a vida já foi bem pior, convém lembrar aos otimistas que poderia ser bem melhor e aos realistas que cabe a nós mudar o que acreditamos estar errado.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A cor da dama

Por Manoel Soares
Publicado em 19 de agosto no Diário Gaúcho

Ultimamente tenho recebido muitos e-mails me perguntando qual é meu tipo de mulher, essa curiosidade nada tem haver com assédio, até porque pagar de galã nunca foi a minha cara, não tenho esse potencial, o buraco é mais embaixo. Alguns e-mails me xingavam dizendo que não gosto de mulher branca, outros me acusam de não gostar das negras, eu mesmo não sei de onde saiu esses papos de girinos, mas vambora desenrolar a respeito né?

Primeiro acho que ninguém deve ser xerife da vida amorosa ou sexual de ninguém, com quem os malandros e as minas se embolam é problema deles. Por outro lado, este conflito de cores é algo que sempre fica no ar, ninguém fala, mas todo mundo pensa. já vi muitos negros acabarem nos braços de loiras porque veem nelas uma forma de dizer para sociedade que eles também são capazes, vi muitas loiras saírem com negros por achar exótico ou por acreditar em certas lendas que não cabem nestas linhas.

Porém generalizar taxar as relações inter-raciais como conflitos de personalidade é burrice, em milhares de casos pessoas de cores diferentes simplesmente se amam e querem ser felizes e o mundo que fique na sua, eles se atraem e se curtem e são felizes ignorando as diferenças, O amor não tem cor e quando a cor fala mais alto não tem amor. Eu da minha parte gosto de mulher, não meninas mimadas ou marretas, mulheres que seja no espelho do teto ou na luta diária pode ser minha parceira, isso independe da cor da pele. Claro que se a relação é inter-racial é importante que saibam lidar com as situações delicadas, afinal o mundo é burro e trata ambos de forma diferentes, a mulher branca precisa saber como agir ao ver seu preto sendo discriminado, o homem negro tem que saber proteger sua branquinha de piadas e insultos que possam surgir, tudo na boa e sem crise, mas não é nada que não possamos enfrentar e superar se existe amor.

Lembro aos radicais que nossa raiz é multirracial, temos um sangue misturado, nesse pampa ninguém é puro, nem preto nem branco. Pensar em cores e raças diferentes já matou mais de seis milhões, não podemos cair no mesmo erro, mesmo que as mortes sejam simbólicas. Já comi sushi feito por uma preta que parecia do Japão e já sambei com loira que parecia nigeriana, não posso mentir, existem diferenças sim, os lábios das negras são mais carnudos e firmes, das brancas mais macios e sensíveis, mas os corações são iguais e isso que importa.

Seria lamentável que uma pessoa deixasse seu grande amor escapar por preconceito ou que usasse a diferença da pele para mandar mensagens babacas para os outros, dane-se a cor, amemo-nos, mas pelos motivos certos. Não quero saber a cor dela, só quero que ela seja minha e eu seja dela, afinal existem momentos em que as cores desaparecem mesmo.

Juíza determina toque de recolher em Teresina

Por André Erich

Recentemente a justiça de Teresina, no Piauí, determinou o toque de recolher nas ruas da cidade. Menores de dezoito anos não podem circular pelas ruas, bares e boates depois das 23H, se não estiverem acompanhados dos pais ou responsáveis ou uma carta escrita a punho autorizado pelos mesmos.


O objetivo do Ministério Público é proteger o adolescente do constante aliciamento de traficantes aos menores. Tendo em vista que “o CRACK e a OXI”, já podem ser considerados uma epidemia, na qual, assola 98% das cidades brasileiras.

Para alguns psicólogos e outros especialistas da área da saúde, esta decisão é uma medida muito autoritária que, infringe os direitos dos cidadãos de ir e vir. Para eles tal resolução não terá sucesso porque o jovem deve ser educado com responsabilidade e não austeridade.

O fato é que, certa ou não a referida medida, fica muito claro que há uma luz no fim do túnel, pois se pessoas influentes na sociedade já discutem o assunto, já é um começo, Entretanto, há muitas outras medidas que devem ser analisadas no combate contra as drogas, aí estão algumas delas:

· O alto índice de analfabetismo no Brasil (atrelado a si a falta de informação de muitos pais).
· A baixíssima qualidade de ensino e preparação de professores da rede pública para lidar com crianças problemáticas.
· Violência doméstica.
· Impunidade a traficantes.
· Ações sociais mais efetivas e sistemáticas nas escolas (palestras constantes sobre o tema).




Usuários e Crime tem ligação?

Por Frank Domingues

Todos os especialistas, antropólogos, jornalistas criminais, profissionais da área de segurança, enfim a sociedade liga o aumento da criminalidade ao consumo de drogas. Usuários furtam e roubam qualquer coisa de qualquer pessoa para saciar o vicio da droga. Mas ate que ponto isso posso ser interligado? Uma pergunta um tanto curiosa para não dizer estranha, que eu mesmo comecei a perguntar-me há uns meses.

Um amigo de infância foi para esse lado escuro. Apesar de ter tudo que a família podia proporcionar-lhe, inclusive amor, carinho e criação digna, ele cedeu ao encanto miraginoso das drogas. Velha história, um baseado para fazer parte de galera, depois um pó para ficar alegre ate que chegou ao mais alto pico da pedreira.

Desde sua entrada nesse submundo, eu em varias conversas francas que tínhamos, eu reparei uma coisa fora da normalidade. Ele nunca roubara para sustentara o vicio. Perdeu vários empregos, inclusive dois de cunho público. Mas sempre fazia seu corre sem prejudicar alguém se quer.

Por muito tempo achei que fazia jus a frase: toda regra tem sua exceção. Com o passar dos meses, e devido ao meu local de trabalho comecei a ter contato com vários tipos de usuários, meliantes, enfim a “sujeira da sociedade”. Inevitável não conversar sobre vários tipos de assuntos, inclusive sobre a assinatura dos artigos assinados por eles.

Esse contato, aliado à curiosidade comecei a anotar alguns aspetos sobre isso. E um dos dados que formulei em gráfico foi que, a cada dez usuários, dois fazem corre para sustentar o vicio. A faixa de idade desse tipo de usuário autossustentado e de 25 a 45 anos.
Agora começo a questionar que, será que os usuários que roubam e depois usam o vicio como desculpa e vice versa, realmente são “doentes” ou são geneticamente malandros demais para trabalhar, mesmo que não fossem usuários?

Mesmo que não se utilizasse das drogas, será que cometeriam os mesmos crimes? Teriam a disposição de qualquer cidadão para labutar dia a dia, sol a sol?

Ainda terei de estudar muito, e pensar mais ainda, pois o bryanstorm sobre esse assunto é violento porque sempre terá uma nova questão polemica, um sociólogo radical, um antropólogo liberal e tudo fora de sintonia, mas com uma única coisa em comum: manter os jovens, principalmente os mais vulneráveis longe das drogas e do crime.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Bairro que Queremos

Por Leandro André
Diretor da Gazeta Centro-Sul

Desde 2008, vem sendo desenvolvido no Bairro São Francisco, na cidade de Guaíba (RS), o projeto “O Bairro que Queremos”, que acontece por meio de um conjunto de ações envolvendo comunidade, iniciativa privada e poder público. Muitas coisas positivas têm sido feitas, como a Praça na entrada da Vila; pavimentação e limpeza de ruas; cursos de culinária e artesanato, entre outros. No entanto, percebo que as coisas acontecem com mais facilidade quando a participação da comunidade é maior. Há quem fique esperando as coisas acontecerem, o que dificulta a realização de mudanças importantes. É preciso acreditar que tudo fica mais fácil na vida em sociedade quando a maioria quer o melhor e participa das ações para melhorar.

Um grupo de voluntários realiza trabalhos promovendo a cidadania; inclusão digital; qualificação profissional; melhorias do meio ambiente; e tentativa de reduzir a evasão escolar. Entre as diversas atividades já realizadas, estão mutirões de limpeza; construção de uma praça; legalização da Associação de Moradores; cursos de informática; oficinas profissionalizantes; e cursos da Cozinha Brasil, que ensinam a preparar refeições de baixo custo aproveitando os nutrientes de partes das verduras e legumes que na maioria das vezes são jogadas fora.

Além de funcionários da Sulfato Rio Grande, fazem parte do corpo de voluntários representantes da Prefeitura, da Escola Estadual Otero Paiva Guimarães, da Ulbra, da Gazeta Centro-Sul, do Projeto Pescar, da Associação de Moradores do Bairro São Francisco, da Escola de Educação Infantil Santa Isabel, da Brigada Militar, do Grupo AMA, da 12ª CRE e do Grupo de Terceira Idade do Sesi. Há também a participação de alguns membros da comunidade, mas ainda em número pequeno.

Em breve, será lançado o jornal do Bairro, que leva o nome do projeto, para que todos os moradores possam se informar melhor a respeito do que está acontecendo e consequentemente participar, dando a sua contribuição; colocando a mão na massa, como se diz.

No primeiro semestre deste ano de 2011, o projeto recebeu o troféu Parceiros Voluntários do Rio Grande do Sul, destacando-se com mais onze, no Estado, que colaboram sobremaneira com o fortalecimento da cidadania do povo gaúcho.

Para uma comunidade se desenvolver e melhorar a sua qualidade de vida é preciso que os moradores estejam bem informados e que participem das ações comunitárias. Não é tarefa fácil promover mudanças, mas também não é impossível. E tudo se torna bem mais fácil de alcançar quando a maioria quer e colabora.

Para quem desejar maiores informações sobre o projeto O Bairro que Queremos, é só ligar para (51) 3491.9300.

domingo, 10 de julho de 2011

A UNIÃO DA MASSA

Por Frank Domingues

 
Na natureza humana, existem duas características que, se fossem aplicadas a rigor, a vida em sociedade seria bem melhor. Humildade e União. A humildade para reconhecer os erros, ser solidários e amorosos. A união para vencer barreiras e preconceitos e procurar a melhor maneira de tornar a sociedade, o local onde vivemos num local melhor e mais justo.

Por isso venho humildemente, pedir desculpas a vocês leitores e principalmente a minha coordenadora da CUFA/RS - A Nathaly. Essas desculpas são por ter sumido, sem ao menos explicar. Mas justificativas serão citadas.

A vida corrida, e luta por melhoras é o que todos querem. Porém nada na vida é como queremos e nos impõe caminhos os quais devemos escolher. Eu escolhi pela família e nessa escolha tive que aumentar a casa, o famoso puxadinho e juntando com final de semestre dos meus alunos até passar “a classe” para meu substituto, se passaram dois meses.

Nesse período de construção, entre uma folga e outra eu distraia-me com livro ABUƧADO (não manos e minas, não está escrito errado é com S virado mesmo). Livro esse do conterrâneo Caco Barcelos. Essa literatura trata, em primeira vista, da biografia do Juliano VP, chefe do morro Dona Marta/RJ.

Não quero fazer apologia ao crime, mas outra cena me chamou a atenção no livro. A UNIÃO. O inicio do morro, os moradores eram todos unidos, que acabaram chamando a atenção das autoridades. Autoridades Politicas, Autoridades Eclesiásticas. Autoridades como: Leonel Brizola (outro conterrâneo), Dom Helder Camara entre outros.

Esses primeiros moradores, na década de 60, fizeram através da união, um local melhor de se viver. Construíram através de mutirão um reservatório d’ água que saia do pico até ao pé do morro que abastecia a favela. Convenceram a Light (concessionária de energia elétrica do RJ) a por um gerador de energia para iluminar os barracos, criaram a associação de moradores entre outros benefícios de melhoria social. Necessidades que deveriam ser de obrigatoriedade do Estado, e que para variar é negado a todas as comunidades do Brasil.

Hoje essa união falta em todas as vilas, bairros, comunidades de todo o Brasil, inclusive no Dona Marta. Não vemos essa união em nenhuma quebrada. Nem em prol da vizinhança nem de nós mesmos. Algumas vezes, noticias de algum abaixo assinado, como, por exemplo, 300 assinaturas ondem residem 1200 pessoas. Um número ínfimo, mas de grande valor, mostrando que a chama ainda esta acesa.

A união quebra barreiras, vence preconceitos, gera amizade e igualdade. Deveríamos não apenas formular abaixo assinados, deveríamos, além disso, cobrar de quem é de direito. Teremos de ser “alegrinhos” e fazer panelaços como argentinos, venezuelanos e reivindicar o que é de direito. Direito a moradia, alimentação, salários e empregos dignos, saúde que está mais que em baixa, e principalmente educação.

Tem muitos que defendem o comunismo, outros o socialismo e muitos a anarquia. Não importa o que defendemos, temos que defender o que é do povo, o que é meu e seu. Devemos ir à luta sem medo de perder nada, pois o povo não tem mais nada a perder, ou melhor, temos que perder o medo de lutar, afinal os criminosos de terno tem mais a perder do que a massa.

“se o povo for pro arrebento, aquela p... do congresso já estaria em chamas a temos”.
e.m.i.c.i.d.a rapper

Limpando a farda

Por Manoel Soares
Postada em 24 de junho no Diário Gaúcho

Estou fazendo, por meio da Cufa, um trabalho bem maneiro com os jovens internos da Fase, onde eles estão discutindo comunicação. Entre outras coisas, eles discutem o papel que temos na sociedade. Não estou tendo o menor problema com a parte técnica ou conceitos de comunicação. Eles são ligados e inteligentes.
Ontem, quase que o bicho pegou quando começamos a falar sobre a polícia. Todos tinham uma história de dor envolvendo a Brigada MiIlitar. Um dos meninos contou que seu primeiro contato com a Brigada foi aos seis anos, quando durante uma revista à sua casa, o policial jogou o botijão de gás na cama onde ele estava deitado com a irmã mais nova.

É injusto condenar os mais de 30 mil policiais que temos no Estado por conta de alguns torturadores, maníacos e homicidas que se escondem atrás do honrado brasão da Brigada Militar, mas a própria corporação deve se dar conta que terá que ser mais firme quando o assunto é a limpeza interna.

A expulsão da Brigada do assassino do jovem boxeador Tairone Silva, de Osório, é um gesto que deve ser regra. As comunidades precisam acreditar que a lei também se aplica aos homens da lei. Nas periferias do Estado, o ódio pela polícia é uma herança passada de pai para filho. Muitos odeiam a Brigada pelo que ela fez ao seu avô, e este ciclo de medo e violência não termina.

Chegou a hora da Brigada Militar conversar com as comunidades, sentar e ouvir. Óbvio que teremos que ouvir também. A polícia não foi inventada para nos dar pau, e isso vai ter que mudar, mas ambas as partes têm que baixar a guarda. Estou começando um projeto com um batalhão da Capital para que a comunidade ouça e fale sobre a relação deles com a polícia.

Depois de ter ido à África do Sul, entendi que esta aproximação é possível, mas não vai acontecer se não houver estímulo. Todos nós perdemos se esta relação continuar assim: a comunidade tem ao lado uma polícia na qual não confia, os bons policiais sofrem por conta das atitudes dos maus policiais e a cidade vive as consequências deste conflito.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pequenos Soldados do Bem

Por Leandro André
Diretor do Gazeta Centro-Sul

A comunidade da Vila São Jorge, em Guaíba, é uma das muitas no Brasil que, constantemente, acompanha notícias negativas sobre o que acontece na própria Vila devido a meia dúzia de figuras que teimam em agir fora da lei, acreditando que isso possa servir de atalho para algum lugar bacana. A ilusão dessa meia dúzia resulta numa carga negativa registrada nas páginas policiais, dando a impressão de que toda, ou a maioria daquela comunidade, trilha por este caminho marginal, quando na verdade é
o contrário.

Em agosto de 2010, estudantes guaibenses das escolas da Vila São Jorge deram um show de cidadania e superação, destacando-se em um festival nacional de dança realizado em Porto Alegre. O Projeto Vida conquistou o 1º lugar no II Brasil em Dança, que aconteceu no Teatro do CIEE, de 24 a 29 de agosto, na Capital Gaúcha. O evento teve na abertura a presença da bailarina Ana Botafogo.

Participaram 39 grupos na categoria Projeto Escola, na qual o Vida concorreu com a dança Soldadinhos de Chumbo. “Os projetos sociais tornam-se espaços permanentes dos nossos sonhos pessoais e coletivos”, ressaltou a professora e coreógrafa Rosaura Alves, responsável pelo trabalho apresentado.

De repente, a Vila São Jorge leva o nome de Guaíba para todo o Brasil de forma positiva. Os estudantes daquela comunidade pobre mostraram que podem muito, que possuem riqueza cultural. Mas o mais importante desta conquista foi o exemplo que deixaram a toda sociedade, ressaltando que as comunidades deste País possuem talentos importantes, capazes de superar grandes dificuldades e se destacarem nas artes, nos esportes, na ciência, na vida profissional e social, basta que a sociedade e o poder público lhes deem oportunidades e os vejam com olhos que transcendam a meia dúzia de marginais que teimam em acreditar no atalho sem saída.

Neste caso, os estudantes da Vila São Jorge demonstraram que são bem mais do que os soldadinhos de chumbo da Literatura, mostraram que são jovens vencedores, pequenos soldados brasileiros do bem.


quinta-feira, 2 de junho de 2011

CUFA RS e o Comitê Gaúcho por um Brasil sem armas

Por Vitória Bernardes
CUFA Eldorado

Acompanhei o Pretinho e gostaria de esclarecer algumas informações. A Rodaika comentou sobre problemas graves no acesso a saúde e sugeriu que as indenizações dadas às armas entregues à campanha do Desarmamento fossem aplicadas para suprir estas carências. Com certeza a saúde precisa de cuidados, mas é importante que todos saibam que armas de fogo (sejam acidentes, tentativas de suicídio, crimes) também geram um alto custo para a saúde. Além de números, o impacto na vida de vítimas de armas de fogo é imensa.

Aos 16 anos de idade fui atingida por uma bala perdida e, decorrente a isso, me tornei tetraplégica. Atualmente faço parte da Rede Desarma Brasil, que conta com a participação de diferentes ONGs do país como Viva Rio (RJ) e Instituto Sou da Paz (SP), e do Comitê Gaúcho por um Brasil sem armas, que conta com importantes representações como a CUFA, que em parceria com o Ministério da Justiça, são responsáveis em promover essa campanha.

É importante compreender que este assunto diz respeito a todos, inclusive aos inúmeros ouvintes do programa. Justamente pela abrangência que o Pretinho possui, mais do que falar sobre opiniões, é importante construí-las baseadas em fatos. Sendo assim, repasso os seguintes dados:

No Brasil há 16 milhões de armas em circulação. Destas, 2 milhões de armas estão nas mãos do Estado e 14 milhões em mãos civis.
Só em 2008 as armas de fogo ceifaram 34.678 vidas. São 95 por dia, 01 a cada 15 minutos (sem contar pessoas que, como eu, apesar das sequelas, permaneceram vivas)
O relatório da CPI do Tráfico de Armas mostra que 68% das armas apreendidas com criminosos haviam sido vendidas legalmente. Ou seja, as armas que matam os brasileiros são justamente as que a campanha do Desarmamento visa atingir. É importante esclarecer que a posse de arma representa risco a quem a possui. Se a deixarmos carregada, caso sua posse seja a fim de proteção pessoal, ela estará sujeita a acidentes fatais e, caso esteja descarregada, não dará tempo de realizar o procedimento. Sendo assim, possivelmente SUA ARMA será roubada e utilizada para práticas de crimes. Além disso, especialistas sempre frisam que reagir a um assalto aumenta as chances de latrocínio.

Nosso Estado possui uma história de luta, que muitas vezes é confundida com o uso da força física na defesa de seus princípios. Felizmente há uma mudança, mesmo tímida, neste contexto. Muitos possuem armas deixadas de herança ou a adquiriram de forma ilegal e, mesmo querendo se desfazer delas, não sabem como. A campanha quer atingir também este público, por isso não pede identificação e utiliza a indenização como estímulo.

Após a aprovação do Estatuto do Desarmamento houve queda acentuada nas taxas de homicídio por arma de fogo, mas houve novas altas em 2006 e 2008. A Campanha de Entrega voluntária, desde 2004/2005, é permanente, porém enfraqueceu ao decorrer dos anos seguintes (2004-2005: 472.855 armas, 2008: 18.121 armas, 2009: 13.749 armas). Como o sucesso nos primeiros anos contribuiu para a queda de homicídios, retomamos a campanha com o intuito de fortalecê-la.

A entrega voluntária de armas tem um objetivo baseado numa lógica simples: menos armas = menos mortes.
Espero que compartilhem esta idéia e repassem as informações.

Como entregar sua arma?

AUTORIZAÇÃO: Retire uma guia de trânsito no site da Polícia Federal (www.dpf.gov.br) para legalizar o trajeto com o material até o local de recolhimento

ARMAZENAMENTO: A arma deve ser entregue embalada e descarregada em uma unidade da Polícia Federal ou em entidades cadastradas. As munições devem ser levadas separadamente

ANONIMATO: No local de entrega, não será solicitada identificação pessoal. As armas podem ser ilegais

INUTILIZAÇÃO: A arma será inutilizada no ato da entrega, com uma marreta

PAGAMENTO: O dinheiro (de R$ 100 a R$ 300) estará disponível para saque no autoatendimento do Banco do Brasil um dia após a entrega
Mais informações em www.entreguesuaarma.gov.br
Agradeço a todos a compreensão! Qualquer dúvida, estou a disposição.
Grande abraço e PAZ

Vitória Bernardes
CUFA Eldorado

FONTES: VIVA COMUNIDADE, Estoque e Distribuição das Armas de Fogo no Brasil, 2010; PIMENTA, Paulo (deputado relator). Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar as organizações criminosas do tráfico de armas. Brasília: Câmara dos Deputados, 27.11.2006; SOU DA PAZ, 2010. Implementação do Estatuto do Desarmamento: do Papel para a Prática




segunda-feira, 9 de maio de 2011

Bastidores da Pedra

Por Manoel Soares
Publicado no Diário Gaúcho

O que vou escrever é baseado no que tenho visto e vivido nas comunidades em que ando. Por mais que muitos, depois de ler, fiquem mordidos, é a mais pura realidade. Avenidas e ruas estão cada vez com menos zumbis da pedra zanzando. Por quê?

O crack, durante anos, atormentou a vida dos moradores de comunidades. Fomos vítimas e algozes dessa desgraça. As favelas, que antes vendiam droga para os boys, sustentavam o tráfico sem precisar da grana do asfalto. Por outro lado, os viciados quebravam o equilíbrio das bocadas – não respeitavam escolas, igrejas e nem varais.

Os traficantes estavam num dilema: se matassem os viciados as “donas Marias” se revoltariam com a morte dos filhos e a alcaguetagem era iminente. A solução foi deixá-los vivos, mas expulsá-los da comunidade. O medo começou a descer o morro, as estruturas sociais tremeram e foi uma correria, pois a praga estava atingindo os filhos dos faraós. Os acampamentos de craqueiros nas ruas do Centro eram comuns.

Para aplacar a crise, a polícia entrou no jogo. Após algumas medidas socioeducativas e muitas borrachadas, quem sobreviveu ao terror da pedra foi em busca de anistia na comunidade de origem. Apesar de viciados, prometeram a mães e familiares que iriam mudar e tal. Como esperado, sem ajuda profissional ou intervenção médica voltaram ao cotidiano de roubo e consumo.

A questão é que não podem mais voltar para o asfalto e o tráfico não tolera o comportamento de um usuário crônico. No meio desse de caos, muitas mães têm vindo a mim dizer que seus filhos simplesmente sumiram. Não acham nem vestígio deles. A maioria acredita que não estejam vivos, pois não tinham condições nem de pegar um ônibus. Se estão mortos, onde estão os corpos?

Chego a uma mórbida conclusão: se, como sociedade, não tivemos competência para resolver o problema do crack, o sistema que o criou está resolvendo, mas à sua maneira. Pode parecer cômodo para nós, mas o preço disso é alto e a conta vai chegar um dia. O crack é só o começo de muito que está por vir. Temos de abrir o olho. Valeu, galera!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Demorei, mas está aqui

Por Manoel Soares
Publicado no Diário Gaúcho

Um leitor de nome João Carlos me mandou e-mail dizendo que esperava que eu me pronunciasse sobre o caso do deputado carioca Jair Bolsonaro, que esculachou os negros em rede nacional e depois falou que estava falando dos gays.

Na verdade, não me omiti no assunto, somente fiquei observando para ver até onde ia e, como eu previa, o papo morreu. Quem ganhou foi o racista, que teve uma baita mídia.
Porém, deu para chegar a algumas conclusões. A primeira é que a sociedade acredita que o racismo é um problema dos negros, o que não é verdade. Essa anomalia social deve ser combatida por todos.

Outra é que, de certa forma, é positivo, porque mostra que, quando os negros denunciam casos de racismo, não estão querendo chamar atenção. Racista não é extraterrestre, não é ET, ele existe e é daqui mesmo.

Outro aspecto desse assunto, para mim, o mais sério, é o silêncio da comunidade negra. É como se fôssemos açoitados e cuidássemos para que nosso choro não perturbasse o sono do filho do senhor de engenho.

Fico motivado quando vejo exemplos de negros que fazem faculdade, que se destacam nas suas carreiras e vidas pessoais, entretanto, a apatia da nossa massa nessas horas me decepciona. Contraditoriamente, quando o centro do problema é outro negro, muitas vezes atacamos em massa como se o pecado fosse maior.

Vou nessa, galera, como negro e favelado, sinto-me à vontade para fazer essa reflexão. Afinal, o deputado Jair Bolsonaro passa, mas o preconceito fica, e é bem maior do que o que vemos na televisão.

Felicidades, galera. Até semana que vem!

Bolsonaro: o Brasil de verdade?

Por Rodrigo Ramos
Colaborador

É comum o discurso médio brasileiro exaltar a nossa miscigenação e dizer que não existe racismo no Brasil em virtude de nosso traço histórico-genético. Se esquecem que não houve nenhum escravo branco em nossa história, no máximo existiram trabalhadores que vieram da Europa e foram explorados largamente, se bem que isso acontece até os dias atuais.

Vivemos, ou pensamos viver em uma Democracia e por mais absurdas, destemperadas e revoltantes que as declarações do Deputado Federal do Rio de Janeiro possam parecer, ele tem direito de externá-las. O que realmente me assusta é o número de pessoas que compartilham das opiniões do polêmico congressista. Claro, é bom ressaltar que ele não pode ofender outros ao expor suas ideias e não cometer crimes ao preferir suas palavras.

Vejo muitos falarem contra as cotas raciais nas Instituições de Ensino Superior, eu mesmo não acho que isso seja ideal, enxergo esse tipo de política um paliativo. É urgente e necessária a retomada de uma qualidade aceitável nos ensinos médio e fundamental proporcionados pelo poder público. Mas, por enquanto, a medida das cotas tem de ser feita. Estudei em algumas escolas estaduais e tinha poucos colegas negros, nem preciso dizer que nas instituições particulares nas quais estudei não consigo encher uma mão com os colegas de classe afrodescendentes. Não há argumento que derrube o fato de que é muito mais difícil o acesso das minorias aos quadros dos ensinos superiores. Enquanto isso, passo diariamente pelo estacionamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e vejo muitos carros, boa parte deles nacionais de luxo ou importados.

Existe sim racismo no Brasil! E isso pode ser percebido nos pequenos gestos, desafio alguém me dizer que nunca desviou de calçada por ter visto um negro em trajes ditos maltrapilhos. Por outro lado, nunca ouvi ninguém que tenha mudado sua rota em função de ter passado perto de um caucasiano com terno ou algo que o valha. Sem falar nos crimes de colarinho branco, temos muitos assaltantes que se trajam de forma considerada de alto nível para cometer seus ilícitos com maior facilidade. Estamos em 2011 porém, os relacionamentos interraciais duradouros ainda são raros e não poucas vezes causam mal estar para as famílias do casal. Sem falar no racismo inconsciente, muitos brancos sequer conseguem ver beleza em pessoas negras.

Se o racismo ainda é tabu, por óbvio, a homossexualidade também o é. Aqui no Rio Grande do Sul, muitos brincam que a única coisa pior do que ter um filho homossexual, seria ter um herdeiro que torcesse contra o seu time do coração, vide a rivalidade absurda entre os dois grandes times de futebol do estado. A questão da sexualidade me remete de pronto à vontade dos pais em ver seus filhos transformados em cópias do que eles, pais, são. Com isso, os casais, que em sua maioria são heterossexuais têm enormes dificuldades em aceitar uma opção diferente por parte de seus rebentos.

Temos muito a evoluir e em diversos aspectos, fica latente que o Brasil está longe de ser a terra de liberdades e libertinagens que alguns dizem ser, temos um lado muito conservador, ainda vivemos muito atrelados aos princípios de Deus, Pátria, Família e Propriedade Privada. Alguns ainda não aceitam o Estado Democrático de Direito e, ainda pior, temos um número expressivo de jovens que se declaram conservadores de direita, espero que o nosso país não retroceda.

RECONHECIMENTO AFRO-ASCENDENTE

Por Frank Domingues
Colaborador

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado... Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

É com essas frases que um dos maiores ícones NEGRO, que lutou por nossa liberdade em tempos de outrora, e que ainda ecoou em todos os homens como forma de incentivo a luta pacífica pela igualdade. Estou falando de Martin Luther King Jr. (Atlanta, 15 de janeiro de 1929 — Memphis, 4 de abril de 1968).

Em uma sala de espera do dentista, resolvi pegar um jornal local para entreter-me enquanto não chegava minha vez. E como tem todos os jornais do país à época, a notícia de destaque era; A visita de Obama, “o homem mais poderoso do mundo”. Com toda certeza, o presidente americano é modelo de inspiração para todos os homens e mulheres de vários cantos do planeta, principalmente para os negros.

Continuo minha leitura, e uma foto chamou a atenção notavelmente. Nossa presidenta, Dilma Rousseff brindando uma taça de Champgne ao grande líder Luther King. Logo me questionei: Se me lembrara de ver a presidenta envolvida com alguma entidade afro brasileira? Como podemos brindar ícones gringos enquanto tempos notórios nacionais e COMPLETAMENTE ESQUECIDOS, principalmente por órgãos políticos? Antes de comemorar a casa alheia, devemos arrumar a nossa. Será que eles fizeram algum brinde ao nosso ZUMBI dos PALMARES (Alagoas 1655 – 1695. Batizado de Francisco por missionário)? GANGA ZUMBA, DANDARA? Será que o presidente americano já ouviu falar deles?

Fiquei certo que o mundo da politicagem e cínico e um jogo de interesses, e que fazem de tudo para ter benefícios, usando nome de tudo e todos, inclusive em nome do povo. Ou melhor, tudo em nome do povo. Por isso que os pobres de modo amplo e geral devem ir para “guerra” contando apenas com a coragem, e esquecer que o governo deveria ajudar. Ajudar com escolas, cultura, lazer. Enquanto não ajuda, devemos cobrar em paralelo enquanto sobrevivemos e lutamos para ter o mínimo de dignidade.

O primeiro passo que deveríamos mostrar a quem deveria, é a honestidade. Ela não tem classe social, nem cor e nem credo. É fácil dizer que a escola e longe, que pobre tem que trabalhar, que o governo não faz nada, mas pobre guerreiro não se esconde na facilidade, ele enfrenta a dificuldade e mostra para a política que não dependemos dela para ser notório.

Através da nossa vitória, podemos ensinar aos filhos, amigos, parentes e a tantos outros, a história da luta dos antepassados negros brasileiros, contra a escravidão, a segregação racial e exclusão. Podemos dizer que ZUMBI e nosso mártir e quem foi Luther King, e a sua luta pela liberdade americana, e que todos os ícones de todas as nações que lutaram pela liberdade, intervieram positivamente em todo o canto mundial.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Yes, we can!

Por Rogério Garcia
Assessoria de Comunicação CUFA RJ

Dizem que a educação e a cultura são capazes de mudar pensamentos e posturas de uma sociedade.
Levando em consideração que nós da comunidade LGBT somos responsáveis pela maior parte do fazer cultural do nosso país, começo a acreditar que tem alguma coisa errada.

Vamos aos fatos: É notória a presença de Gays, Lésbicas e Trans em todos os segmentos culturais do país – Atores, diretores, maquiadores, Redatores enchem os nossos teatros e telenovelas de sonhos e questões pertinentes à sociedade. E o que falar então do maior espetáculo da Terra? O Carnaval Carioca e o Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro simplesmente não existiria sem nós gays, que estamos representados nos carnavalescos, coreógrafos, artistas plásticos, costureiros, diretores entre outras funções. Então, porque o ponto de mudança para discussões pertinentes ao nosso universo são tão difíceis de serem discutidas? Falta união? Falta foco? Porquê as bancadas políticas contra os nossos direitos são mais fortes e significativas?

Em 2009 remontei um espetáculo chamado “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, com a direção magnífica da atriz Zezé Motta (sua primeira direção para o teatro). Nosso maior desafio foi fazer uma peça que não fosse comédia, com temática LGBT, num dos palcos mais respeitados do Rio de Janeiro: a Casa de Cultura Laura Alvim. Foi um sucesso! Casa lotada todos os dias. No entanto o que mais me intrigava eram os comentários de pessoas que iam assistir à peça achando que, pelo título, o espetáculo falaria da vida do cantor Cazuza. Uma vez ouvi de uma advogada: “Eu nunca imaginei que o relacionamento entre dois homens poderia ser tão bonito, tão normal”.

Chegou a hora de mostrar e exigir respeito! Chega de brigas internas, chega de falácia! Vamos agir: vamos mostrar que é possível uma sociedade menos desigual em todas as instâncias!

Cada um na sua arte, cada um com sua arma, cada um mostrando que “sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

Sim, nós podemos!

sexta-feira, 18 de março de 2011

TV: a vida como ela é?

Frank Baldez
Colaborador


Até que ponto a mídia, musicas e filmes podem interferir no crescimento de uma adolescente? Aqueles famosos que deveriam ser exemplos, e quando menos esperamos deparamos com alguma coisa errada. Nosso ídolo, como qualquer mortal, como qualquer morador de qualquer classe, aparece afundado em drogas. Seja licita ou ilícita, afinal droga e droga.
A mesma mídia que julga o usuário pobre, glorifica o usuário famoso. Analisamos alguns algumas personalidades internacionais, que possuem várias acusações de embriaguez e quantas penas cumpridas? Temos também um vasta lista de celebridades nacionais, e nenhuma pena efetivamente executada.
Essas pessoas, que são formadoras de opinião, personalidade pública, deveriam ter uma vida social dentro da moralidade, pois mesmo sem elas perceberam, por mais que digam que saibam, servem de modelo e inspiração para muitos jovens.
E por mais que não queira pensar, esses jovens, são da periferia. Não tem ambos os pais, acesso a educação, e tudo que veem em seus ídolos, mesmos coisas negativas, acabam por imitá-los. Só que eles não sabem e que uma viajem sem retorno. O retorno para pobre, dessa viagem, e de um contra 1000.
A periferia não pode pensar que, se entrar no mundo cancerígeno das drogas, eles não terão o beneficio de admitir publicamente que são usuários (ou melhor doentes), e também não terão apoio de nenhuma emissora de televisão ou do governo e muito menos recursos financeiros de suas famílias.
Mesmo que os ídolos tenham uma vida social padrão, como seus personagens atinge um moleque que sabe de cor a programação da televisão, mas não sabe escrever seu nome? A mente infanto-juvenil e um campo vazio que está por ser preenchido, porém se esse campo for habitado, mesmo ficticiosamente por personagens com armas, drogas, violência e crime, estaremos formandos adultos violentos.
Temos que ensinar aos nossos filhos, nas escolas, nas comunidades que a pessoa que trabalham de sol a sol, sustentam suas famílias, tem tanto ou mais valor de que os ídolos inexistentes, que vivem fora da realidade periférica.
Faremos nossa parte, sem mesmo ter a parte que deveria ser feita pelo governo, e devemos filtrar o que nossos filhos assistem na TV, pois as pequenas mentes não sabem distinguir o que errado, pois disfarce que encobre a violência na TV, é perfeitamente muito bem feito.

sábado, 12 de março de 2011

Perdoem o anjo

Por Manoel Soares
Publicado no Diário Gaúcho

Ver que seu filho já lava louças sozinho. Acordar um dia e se dar conta de que sua filha usa sutiã ou que sua mãe envelheceu e tem mais cabelo branco do que quando você reparou pela última vez. Perceber que seu irmão mais novo precisa de um barbeador.

Essas são algumas das constatações a que muitos de nós chegamos depois um tempo, não que sejamos irresponsáveis ou desatentos, mas porque voltamos nossos olhos para aqueles que pareciam precisar mais da nossa ajuda naquele momento.

Professores, policiais, educadores sociais e muitos outros sabem do que estou falando. Em algum momento, já foram acusados desse pecado.

A Bíblia diz que “quem não faz previsão para os seus é pior do que alguém sem fé”. Mas nossa ausência é por excesso de fé, nossa abnegação se explica por ver que os anjos da morte se espalham com uma velocidade assustadora.

Autodeclaramo-nos “anjos da vida” e esticamos nossas asas imaginárias para tentar fazer a diferença, pelo menos, naquele dia. Com a imbecilidade de mergulhadores salva-vidas, pulamos na água mesmo sabendo que, com o mar revolto, não será possível voltar.

Nossa ingenuidade nos convence que todos vão entender. Talvez, todos entendam, mas não o tempo todo. Um dia, o mundo à nossa volta nos olha e exige que mudemos a escolha diária. Nessa hora, o peito rasga e não temos escolha, um pouco de nós vai morrer ali.

Respeito e admiro aqueles que conseguem esquecer o mundo para cuidar dos seus, eu não cheguei a este nível de evolução. Faço parte daqueles que ainda esquecem dos seus para cuidar do mundo.

Sei bem como isso doi, não sei se um dia farei diferente. Porém, como disse um amigo que compartilha da mesma dor que eu: “Perdoem esse anjo que não me deixa em paz”.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Amolando a mente

Por Manoel Soares
Publicado no Diário Gaúcho

Estes dias, um menino veio me perguntar por que precisava estudar se muita gente sem estudo também vive bem. Fora aqueles papos óbvios sobre educação, me liguei que precisava entrar na mente do moleque. Talvez, como milhares de jovens, ele estivesse pensando em abandonar a escola.

Lembrei de uma história que recebi por e-mail: um velho lenhador, conhecido por sempre vencer os torneios dos quais participava, foi desafiado por um outro lenhador jovem e forte. Muitos acreditavam que o velho perderia a condição de campeão dos lenhadores, em função da grande vantagem física do jovem desafiante.

No dia marcado, os dois começaram a disputa. O jovem se entregou com grande energia, convicto de que seria o novo campeão. De tempos em tempos, olhava para o velho e, às vezes, percebia que ele estava sentado. Pensou que ele estava velho demais para a disputa, e continuou cortando lenha.

Ao final, foram medir a produtividade dos dois lenhadores. O velho vencera novamente, por larga margem, aquele jovem e forte lenhador. Intrigado, o moço questionou:

– Não entendo. Olhei para o senhor durante a competição e notei que estava sentando, descansando. No entanto, conseguiu cortar muito mais lenha do que eu!
– Engano seu – disse o velho. Quando você me via sentado, na verdade, eu estava amolando meu machado. Percebi que você usava muita força e obtinha pouco resultado.

Essa é a real da nossa vida, galera. Tentar vencer sem estudo é cortar lenha com machado cego. Vai ser mais desgastante e menos proveitoso. Não é somente o que se estuda, mas a disciplina de estudar que faz a diferença. Não adianta somente obrigar o menino a estudar. Como pais e amigos, precisamos convencê-los que estudar é amolar a mente para cortar as dificuldades que a vida trará. Se não, sempre seremos vencidos sem entender o motivo.

Por isso, recomendo aos que vão iniciar seu ano letivo: sentem para amolar seus machados.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Viagem de macaco velho

Por Manoel Soares
Artigo publicado no Diário Gaúcho

Depois de viver por mais de três anos a campanha Crack, Nem Pensar, me assustei com a aproximação natural de milhares de jovens com as drogas. Muitos nem sequer sabem que estão
enfiados num mar de horrores. Outros, encontram a solução para a dor no falso prazer oferecido pelas drogas.

Nestes rolês pelo Litoral me dei conta de algo que passou a me preocupar mais ainda: a drogadição dos adultos. Fiquei abismado com a quantidade de homens e mulheres pais de família que usam droga, como cocaína e crack. Conversando com um desses casos, ele me afirmou que dava uns
“tecos” só nos fins de semana, mas que tinha controle, pois há mais de 12 anos estava nessa. Caramba, se ele tem controle, por que não conseguiu parar em todos esses anos? Ele ficou sem resposta.

Uma outra mulher não deixa a filha usar sequer saia curta, mas ela, depois que todos dormem, vai andar no calçadão para fumar um “baseado”. Essa incoerência não funciona, pois os filhos aprendem mais com as ações do que com as palavras.

Realmente, não sei como entrar na mente desses “macacos velhos” para fazê-los entender que precisam de ajuda especializada. Quem acredita que vive bem, mesmo usando droga, não sabe o que é viver bem. Os mais jovens são controlados pelos seus pais. E os pais, quem controla? A coisa é tão absurda que alguns colocam o dinheiro do pó nas contas do mês. É como se a droga comesse na mesa junto com a família.

Não vivemos em uma sociedade capaz de discutir discriminalização ou legalização do comércio e uso de drogas. Fica essa hipocrisia que uns fingem não usar e outros fingem acreditar no que é dito. Pais viciados são fruto da incapacidade das gerações passadas em lidar com o problema. Nunca acreditei que os governantes e as leis são os responsáveis, pois a justiça só precisa bater martelo quando a consciência falha.

Cada um sabe o que faz da sua vida e deve estar ciente dos riscos. Mas acredito que, quando os atos de um pai colocamm em risco a vida do filho é hora de cair em si e pensar se essa viagem vale tanto assim.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Sobre o mercado de trabalho

Por Rodrigo Ramos
Colaborador

Recentemente me formei Bacharel em Direito, antigamente isso seria orgulho de qualquer família externado com a clássica frase: “meu filho é Doutor!” Hoje a realidade é bem diferente, você termina seus estudos e diferentemente dos outros cursos, não sai habilitado para exercer a profissão. Existe o temido Exame da Ordem dos Advogados do Brasil, o qual tem índice de reprovação altíssimo. Mesmo passando na prova, o então novo advogado será apenas mais um dos mais de 80 mil aqui no Rio Grande do Sul. Por ironias do destino tenho o chamado registro precário de Jornalista, mesmo que tenha passado apenas um semestre na Faculdade de Comunicação Social, essa possibilidade surgiu para mim graças a uma liminar na justiça aliado aos meus anos de exercício da profissão como repórter de uma rádio. Aumentando a ironia, foram os doutos Ministros do STF que poucos anos atrás terminaram com a exigência do diploma de Jornalista.

Saindo do pessoal e entrando no social, tenho visto muitas matérias que propagam um grande número de empregos ditos atrativos que não são preenchidos pela falta de profissionais qualificados. A proximidade da Copa do Mundo e das Olimpíadas que, irão ser realizadas em nosso país, só aumentam os predicados que deve ter um trabalhador. Ouço falar que um garçom deve ter além de conhecimentos em inglês e espanhol, noções de italiano ou alemão. Acho difícil que esse profissional receba o suficiente para pagar cursos para todos esses idiomas. Algumas das vagas citadas nas matérias como boas são para operador de telemarketing e para conduzir maquinário industrial, arrisco dizer que essas carreiras não são as mais cobiçadas na atual sociedade.

Medidas tomadas durante o período de comando do Presidente Lula inegavelmente aumentaram o acesso de pessoas com menor poder aquisitivo em faculdades e, por conseguinte, também fizeram crescer a vontade das pessoas em cursar o ensino superior. As ideias expostas pelo candidato José Serra, o qual queria fazer o “PROUNI do ensino técnico” davam mostras de que a política do PSDB visava diminuir o alcance aos cursos de graduação. Uma coisa é inerente a quem conclui o ensino superior, querer atuar em sua área de formação e aí voltamos ao início da conversa que dá um exemplo sobre o mercado para os estudantes de Direito. Não há espaço na maioria dos setores para absorver todos que saem das instituições de ensino superior, o que acaba por gerar uma frustração. Alguns tentam montar seus próprios negócios e outros depois de certo tempo de prostração, começam a procurar por qualquer tipo de ocupação.

Em linhas gerais, a ambição criada com o maior acesso ao ensino superior não é suprida pelo mercado de trabalho e as pessoas penam para aceitar isso e se resignar em tentar sucesso em um emprego menos atraente ou com um status, em tese, inferior. Por vezes, parece que temos um abismo entre pessoas qualificadas sem emprego e aquelas com pouca instrução, a qual não lhes permite alcançar as mais básicas funções. Não parece haver uma camada média entre esses dois pólos. É claro que a qualificação é sempre benéfica, nem que seja pelo puro aproveitamento intelectual. No entanto, é necessário haver uma conscientização de que no sistema em que vivemos é impossível o sol brilhar para todos.